terça-feira, 20 de novembro de 2012

CATADIÓPTRICO O ADJETIVO DE SER HUMANO




Há fronteiras ou paradigmas que como uma circunferência, delimitam a arte contemporânea?

O espetáculo CATADIÓPTRICO (adj.1. Relativo ou pertencente tanto à reflexão quanto à refração da luz. Propriedade da arandela reflexiva – olho de gato), propõe o questionar do limite na arte, caso este ocorra, nos corpos dos quatro atores presentes em cena, estas argumentações geradas no processo psicomotor com o auxílio da técnica rasaboxes “o ator como atleta das emoções”, ou seja, treinar o ator/bailarino/performance na conjectura corpo/mente/emoções numa composição visceral para acessar, exprimir e gerir essa tríade holística, concebida na década de 1980 e 1990 por Richard Schechner, conforme definição pesquisada e estudada por Juliana Calligaris (in “Projeto Rasaboxes – O Ator como atleta das emoções”, por Juliana Calligaris, São Paulo – SP, 2012).

Antonio Ginco, Juliana Calligaris, Lucas Barbosa e Monalisa Vasconcelos, estes com sua humanidade refletem argumentações nas perspectivas do quem somos, a relação com o tempo e sua formatação de posturas sociais, o ofício da arte com significados particulares (com a utilização de histórias pessoais) para a associação global, catártico para o espect-ator, conceito de espectador não passivo, mas sim agente de sua história, desenvolvido por Augusto Boal (in “Teatro do Oprimido e Outras Poéticas Políticas”, Ed. Civilização Brasileira, São Paulo-SP, 2005).

Uma composição poética que contrapõem a concepção de Peter Brook e seu Teatro Morto, o teatro enfadonho em que o fator comercial, a necessidade do dinheiro sobrepõem o caráter artístico, o “Teatro Sagrado, o Invisível-Tornado-Visível: O conceito de que um palco é um lugar onde o invisível pode aparecer tem um grande poder sobre os nossos pensamentos”, ou seja, as emoções ganham corpo. (in “O Teatro e Seu Espaço”, Peter Brook,Ed. Vozes Limitadas, São Paulo-SP, 1970).

Com roteiro inicial de Monalisa numa ação híbrida e colaborativa de todo o elenco, em que cenas não lineares constroem um panorama contemporâneo graças à digestão antropofágica, ironias políticas-sociais, a superficialidade intelectual causada pelos meios midiáticos, e a transformação que a arte pode ocasionar perante estas conjunturas creditadas hoje (erroneamente?) como sine qua non.
A direção de Leticia Olivares, graduada em Dança e Consciência Corporal pela FMUSP, proporciona uma requintada limpeza estética numa construção minimalista em que todas as ações possuem significados, nada além do necessário, em que equilibra as potencialidades de cada ator e consegue assim torná-los ao mesmo tempo individuas, autorais e corporificados, “a verdadeira arte secreta do ator” como ensina Eugenio Barba.
As interpretações estilisticamente antagônicas e suplementares abastecem as dificuldades por falta de experiência viva em palco dos atores Lucas Barbosa e Monalisa Vasconcelos, outro bônus para a direção.
Uma dificuldade ainda não sanada é quanto a luz, esta talvez por falta de recursos específicos provoca um choque de realidade, a imersão é quebrada quando a geral vaza pelo espaço além palco.
Os figurinos e cenário desenvolvidos por Paulo de Moraes é um destaque no todo, valoriza a personalidade de cada integrante em que cores são presentes apenas na camiseta, num projeto op art em que as riscas de branco e preto presentes nas saias e calças são estendidas pelo chão e paredes, na tendência fashionista da construvisão: volumes retorcidos, geometrização, sobreposição e recortes gráficos.
Ao final quando os atores recolhem em pequenos recipientes seu suor e entregam-no à plateia, o ato metafórico da oferenda, doação, os corpos humanos refletindo humanidade, a pergunta inicial se a arte possui limites será respondida na “internalidade” de cada espectador, a pulsação única, a gênese em que retornamos ao processo tribal, ritualístico e devidamente humano.



FICHA TÉCNICA


Roteiro original: Monalisa Vasconcelos
Dramaturgia coletiva
Organização dramatúrgica e Direção: Leticia Olivares
Elenco: Antonio Ginco, Juliana Calligaris, Lucas Barbosa, Monalisa Vasconcelos
Preparação corporal: Leticia Olivares
Preparação vocal: Juliana Calligaris
Cenário e figurinos: Paulo de Moraes
Iluminação: Fabio Reginato e Lucas Barbosa
Trilha sonora: Leticia Olivares
Operação de luz: Leticia Olivares
Operação de som: Clarissa Olivares Rodrigues e Pedro Darween
Fotos: Fábio Reginato e Jeferson Kim
Produção gráfica: Lívia Maia e Maura Hayas
Produção geral: Trilhas da Arte Pesquisas Cênicas

Local: Estação Caneca/Espaço Trilhas da Arte
Rua Frei Caneca, 384 – Bela Vista
Última apresentação do ano: 23/11 ás 16h
Ingresso: Gratuito
Pela Mostra dos 10 anos de Fomento ao Teatro

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