quinta-feira, 19 de agosto de 2010

E O TEMPO NÃO LEVOU...

"Quero ir embora daqui. Não fazem sentidos tantas coisas. Muito menos eu. Não há verdade em torno de mim. É hipócrita. Uma invenção "tosca" de uma mente depravada, doente, ávida por não sei o quê; a âncora fraca que não mais sustenta barco qualquer, à deriva. Completamente à deriva, é isso. A melhor definição: a âncora enferrujou, não era pesada o suficiente, foi desamarrada, inventada, tanto faz. O que importa é que o barco se afastou da margem, do porto, do inerte. Se o vento vem, barco vai, se não, fica. Se chove, molha. Se o mar se assusta, quem tem medo é o barco, que dança, se vira, na iminência de ser tragado pelas ondas. Ainda tenta se manter na superfície, até consegue. Mas a água que o cerca não é segura, não se segura, não se pega, nem se agarra. Ela flui, passa não volta, vai e vem, é traiçoeira, segue seu rumo, mas não leva o barco a um lugar. Tenta engoli-lo, sem fome. Pelo simples prazer de seguir seu ritmo, ignorando qualquer tipo sólido sobre si. Não lhe incomoda o peso do barco. Realmente é insignificante."

"A gente fala da morte tão tranquilamente como se ela estivesse ali, do nosso lado como velha conhecida. E é. Como se não nos causasse aflição. Ou não fosse, de verdade, nos atingir. Por que nos enganamos tão sutilmente? Somos cúmplices numa mentira tão óbvia que é melhor não questionar mesmo. A verdade que me falta por todos os lados, não é necessária aqui. Só uma brincadeira de vida, na qual escolhi ser "café com leite". Quando terminar, alguém me avisa ou se ficar chata, paro de brincar. Às crianças tudo é simples assim. Sábias são elas que não fingem tão inescrepulosamente como nós. Tenho medo." MARIVONE RAMOS...


2 comentários:

  1. Obrigada Kall por considerar o barco, a âncora e o mar que ainda insiste em me tragar, sem sede nem fome, como se brincasse de vida e morte. Te adoro

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